Estamos rodeados de imagens de mulheres sensuais e despidas, também homens, na publicidade e nos sites que visitamos. São imagens que despertam emoções. Desejo sexual? Amor?
Às vezes, sinto-me prisioneiro do vocabulário da língua que uso para comunicar. Eu vejo o desejo sexual como um nível primitivo duma ideia de amor que excede o significado da palavra amor, que usamos todos os dias. Essa ideia existe, mesmo que não seja pensada por qualquer indivíduo da espécie humana. e sem a qual não poderiam existir toda essas variações: desejo, sexo, paixão, amor.
À medida que evoluímos, quer numa perspectiva de espécie, quer ainda numa perspectiva individual, numa evolução que está para além desta vida que vivemos aqui e agora, aprendemos e conquistamos ferramentas para sentir e comunicar níveis mais completos dessa ideia de amor. O amor humano não representa, longe disso, o nível mais elevado dessa ideia de amor. Somos crianças no processo evolutivo.
Eu não olho o mundo pelo prisma do materialismo, que reduz o ser a tudo o que pode ser observado pelos sentidos e pelas máquinas dos homens.
Até porque essa visão do mundo é redutora. É uma realidade elástica. Há 200 anos era mais limitada do que é hoje. E, com a evolução da nossa tecnologia, a nossa capacidade de ver para além dos sentidos acrescentou um novo mundo à realidade. Hoje, com novos instrumentos, como o Large Hadron Collider, espreitamos para a realidade do amanhã, que é maior do que a realidade do hoje.
Mas, esse novo mundo não existia antes? Não é lógico negar a sua existência. Então, é necessário concluir que o materalismo é uma visão parcial e limitada da realidade. Pode funcionar como uma metodologia científica para aqueles cientistas menos inteligentes, que aprenderam essa religião na universidade e constituem a maioria, ou até para alguns cientistas inteligentes, que são prisioneiros do dogma ou simplesmente cobardes, porque gostam do conforto de serem reconhecidos como ovelhas bem comportadas.
Mas, todo este discurso sobre ciência e realidade, quando o tema é amor, sexo e publicidade? Tudo o que observamos à nossa volta não existe sem as correspondentes ideias. E sem a consciência necessária para materializar essas ideias. Todas as expressões de amor que sentimos, apreciamos no cinema, na rua, nos grupos sociais a que pertencemos não possuem qualquer significado, sem a ideia prévia de amor. Idealista? Não me parece que a realidade seja simples ao ponto de encontrarmos todas as respostas numa solução mágica de escolher entre materialimo ou idealismo.
Mas, é dessa ideia de amor que brotam todas as variações: desejo sexual, amizade, amor, êxtase.
Existe um desejo sexual, instinto natural, animal e selvagem, em cada um de nós. A espécie humana, nos seus melhores dias, manifesta na relação do eu com o outro eu uma emoção mais evoluída: amor.
Qual o papel dessa emoção num processo de promoção duma marca, de venda dum produto ou serviço, de conversão dum objectivo no seu site, loja online ou blogue? Orienta a atenção? Mas, pode distrair?
Antes de usarmos as emoções como ferramentas de publicidade, não temos que estudar, conhecer e experimentar essas emoções? A nossa capacidade de aplicar essas emoções no publicidade, no design dum site, não depende das nossas próprias experiências, da consciência que temos sobre a importância, o papel e a natureza das emoções?
Você sabe quantas emoções existem? Sabe identificar emoções nas suas palavras e acções?
É possível fazer publicidade, sem viver a vida? Sem experimentar com a vida? Sem conhecer a vida? Sem saber quais são e como são as emoções? É possível usar todas as emoções relacionadas com amor no marketing, na publicidade, sem amar, sem sentir a felicidade e o sofrimento do amor?
É possível avançar o nosso conhecimento sobre essa emoção de amar sem falar, conversar, debater, analisar a ideia de amor? É possível conhece a ideia de amor sem amar? É possível usar essa emoção no nosso trabalho sem essa experiência de amar e sem conhecer essa ideia de amor?
A violência é uma prova de amor?
A violência é uma manifestação de medo. E quem tem medo de viver, quem tem medo de amar, precisa de ajuda. Mas, numa relação de amor, a violência é o sinal STOP. É como um cancro que cresce no seu corpo. Se não o eliminar logo, esse cancro vai crescer e você vai doer, vai sofrer, vai morrer. A vida tem mais amor. Mas, esse amor não tem mais vida…
O amor é uma reacção química no cérebro?
Você é o materialista que reduz tudo o que existe a matéria? Você vive num mundo da física Newtoniana, acredita no Big Bang e acha que Darwin descobriu o segredo da vida. Mas, não é capaz de definir vida. Se ler Richard Dawkings, não há qualquer diferença entre vida e não vida. Amor é sexo, procriação e a sobreviência do gene egoísta. Mais do que isso, você é uma marioneta. Não tem consciência. E, se não tem consciência, vá dormir… e não acorde. Se você não tem consciência, você é nada.
Mas, pare um pouco para pensar. Você é nada? Não vamos debater física quântica, cosmologia e evolução. Não vamos sequer discutir consciência. Mas, não há amor sem absoluto. Esse absoluto pode ser Deus, pode ser a ideia platónica do amor, pode ser uma entidade que personifica o amor absoluto e incondicional, pode ser energia. No fim, esse absoluto é significado. E não há significado sem consciência.
O amor é temporário, é efémero?
Nasci a morrer.
Viver é perder.
O amor está condenado? É um castelo de areia junto às ondas do mar?
A nossa vida é a experiência do eu na relação com outro eu. É condição dessa experiência a ideia de tempo. A água que passa no rio, nascimentos e mortes, é o palco perfeito para aprendermos o significado do eu e do tu e o valor do amor.
Quanto vale uma emoção que sempre existiu, existe e sempre existirá? Como é que a descobrimos se nunca observamos o seu nascimento e a sua morte? Quanto vale o eu, que nunca nasceu e nunca morreu?
This is Love by ~PsychoticPengu1ns
O amor é doloroso?
Pode ser… Dois piercings no sítio errado, na hora errada…
O amor é um momento?
É uma sucessão de momentos. É partilhar o eu com outro eu. É amizade. É companheirismo.
Há pessoas que encontram amor em todo o lado?
Sim, é verdade. O amor é um estado de consciência. Os monges do Tibete sabem encontrar com facilidade a frequência desse estado de consciência. E amam mais vezes do que eu e você. Você não imagina o amor que você pode sentir, no meio duma floresta, pelas árvores e plantas que o rodeiam. Pode ser sublime. Mas, pode ser loucura, se você perder a sua individualidade, nessa fusão com o colectivo que o rodeia.
Há pessoas que vivem num mundo sem amor?
É como a felicidade. Nunca ouviu a historia daquele pessoa rica, linda, inteligente, perfeita. A história daquela pessoa que nasceu num berço de ouro. A história daquela pessoa que nasceu no local certo, no momento certo, para ser feliz. E não é feliz? E, na mesma cidade, na flavela mais pobre, mais suja, mais violenta, mais escura, mais feia, outra pessoa diferente, que nasceu no local errado, no momento errado, para ser feliz, é feliz?!… O amor e a felicidade são estados de espírito?
bed for love by ~RunningThroughUrVein
Você! Sim, você… Você é webmaster, gosta de jogos online, vive mexendo, tocando, acariciando o seu Android, escreve tudo o que faz no Twitter, não desliga do Facebook. Sim, você! Olhe para a foto!
Prefere fazer amor com o seu Mac?
Love to Hate, Hate to Love.. by ~evilneil
O amor mata?
Você pode escrever 100 vezes o significante do amor, sem escrever uma única vez o significado do amor.
O amor derrete as paredes de gelo, que nos afastam uns dos outros, nestas cidades cinzentas de cimento?
A única esperança para uma comunidade de afeto, com prédios felizes, onde podemos fazer amizades com os vizinhos, que são pessoas de verdade, é o amor.
A alternativa são os encontros protocolares entre robots, nos elevadores à porta de casa, onde a programação está restrita no vocabulário a meia dúzia de palavras, entre as quais o Bom Dia, Boa Tarde e Boa Noite. Nalguns casos, os robots não estão sequer programados para sociabilizar, porque não abrem a boca e nem sequer olham uns para os outros, numa indiferença que é natural entre máquinas de metal, mesmo que sofisticadas e com software de última geração e actualizado, mas que é patológica entre pessoas humanas, embora muito rentável para as empresas farmacêuticas, que facturam anti depressivos como se essa droga fosse um bem de primeira necessidade como o leite ou o pão.
“Estás a sorrir? De que marca é o teu sorriso? O meu é Prozac!”
Se não aprendermos que a consciência do eu e do tu, minha e do meu vizinho, independentemente da religião, da profissão, do clube de futebol, da cor da pele, da orientação sexual e de todas esses pequenos ódios que matam todos os dias pessoas humanas, não são separáveis. Que não só fazemos parte do mesmo ecossistema, numa relação de interdependência, como partilhamos a mesma consciência colectiva.
Se não aprendermos que o segredo para a nossa felicidade, desenvolvimento pessoal e evolução espiritual é o amor que podemos dar e que precisamos de receber desse mesmo vizinho, estamos condenados a viver prisioneiros nas cidades de gelo que construímos, consumidos pelo materialismo do gene egoísta.
O amor obedece a um protocolo, normalização social que torna as relações sociais indiferenciadas, onde apenas os modelos dessa cultura e sociedade podem amar sem descriminação?
A vida, humana ou qualquer outra, é uma lição fantástica, num mundo difícil, mas rico em diferenças. Não evoluímos com lições fáceis, no paraíso dum qualquer Deus pai, cheio de pessoas obedientes e integradas na norma predominante.
O amor é uma energia que não está à venda no shopping do Sr. Rico, do Sr. Bem Comportado, do Sr. Correcto. É uma energia que qualquer pessoa pode sentir e comunicar.
Mas, a ideia de grupo, quando separa um grupo do outro, descrimina. E é essa separação de grupos que precisamos de resolver. No início, no meio e no fim, somos apenas um. Podemos brincar, viver, errar e aprender, nesta realidade virtual de muitas diferenças, muitos grupos, muitas culturas, mas só existe uma humanidade. E temos que transcender essa divisão para encontrarmos um amor sem fronteiras.
O amor é perfeito? Eu já escrevi que sim. O amor é perfeito. Nós não somos.
Mas, quando é que nos aproximamos desse amor perfeito? Eu tenho esta ideia que uma relação entre um homem e uma mulher evolui com o nascimento dum filho (a).. A ternura que existia antes sofre uma evolução, ganhando novas texturas, adicionadas pelo amor que um pai e uma mãe sentem por um filho (a).
Um mundo velho, com seres imortais, sem crianças, não só perderia toda a alegria que só as crianças são capazes de sentir, mesmo quando já são adultas, como esgotaria o stock de ideias novas, a inovação e a própria evolução da consciência desse mundo e de todas as suas consciências individuais. E perdemos a criança que existe em nós ao longo da nossa vida. Não existem muitas pessoas velhas que ainda sorriem ruidosamente como crianças.
Que informação podemos retirar deste artigo para o marketing dum site, dum produto, dum serviço ou duma marca? Caminhei pela ideias de amor, de vida, pelas imagens que publiquei, com a certeza que é necessário sair dos gabinetes e experimentar e aprender emoções, para podermos usar essas emoções no nosso trabalho. Uma memória vazia jamais será capaz de parir ideias criativas e inovadoras.
O sucesso não depende da qualidade do trabalho no gabinente, mas da qualidade da vida fora dele.
2 Responses
Artigo com muita profundidade, uma visão sublime, e real, do tema em questão.
Fiquem bem,
Paulo…
Acho extremamente válido analisar e debater de forma profunda e com uma visão bem ampla um assunto de tamanha importância como é a influência da publicidade, principalmente em se tratando do envolvimento dela com pessoas e sentimentos. Muito bom!!!